Grande parte das inteligências artificiais mais populares foi concebida com rosto ou voz de mulher. Essa escolha reflecte padrões sociais enraizados e revela como a tecnologia, mesmo quando inovadora, continua a reproduzir papéis tradicionalmente atribuídos às mulheres. Como o da assistente prestativa, acolhedora e sempre disponível.

Neste post, apresentamos algumas das inteligências artificiais mais conhecidas com identidades femininas para reflectirmos sobre os significados e impactos por trás dessas escolhas de design.

1. Sophia – A Robô Cidadã

Desenvolvida pela empresa Hanson Robotics, Sophia tornou-se um ícone mundial da robótica. Com aparência feminina e capacidade de expressar emoções e manter diálogos complexos, ela foi projectada para facilitar a aceitação da robótica nas interacções humanas. Sua popularidade cresceu após receber cidadania da Arábia Saudita em 2017, sendo tratada como símbolo da inteligência artificial humanizada, que neste caso, assume claramente traços femininos.


2. Alexa, Siri, Cortana e Bixby

As assistentes virtuais mais conhecidas, Alexa (Amazon), Siri (Apple), Cortana (Microsoft) e Bixby (Samsung), foram lançadas com vozes femininas por padrão. Essa escolha estratégica foi baseada em estudos de mercado que indicaram maior aceitação por parte dos utilizadores. No entanto, essa tendência reforça estereótipos de género, associando o papel de assistente e suporte à figura feminina, mesmo no universo digital.

3. Erica – A Apresentadora Robô

Criada por pesquisadores da Universidade de Osaka, Erica é uma robô com aparência de jovem mulher e expressões realistas. Projectada para actuar em ambientes de comunicação, ela já assumiu funções como apresentadora de telejornais. Sua estética e voz foram cuidadosamente desenvolvidas para transmitir credibilidade e empatia, reforçando a idéia de que a aparência feminina é mais "confiável" em contextos de comunicação pública.


4. Ai-Da – A Artista Robô

Trata-se de uma robô artista com nome inspirado em Ada Lovelace, a pioneira da programação. Capaz de desenhar, pintar e compor poesia, Ai-Da é um exemplo de como a IA pode ser aplicada no campo criativo. A escolha de uma identidade feminina neste caso tem um tom de homenagem, mas também serve para suavizar a imagem da tecnologia ao aproximá-la da sensibilidade artística — novamente, uma qualidade frequentemente associada ao feminino.

5. Replika – A Companheira Virtual Personalizável

O aplicativo Replika permite criar um avatar de inteligência artificial que simula uma relação emocional com o utilizador. Apesar de permitir personalização, muitos escolhem uma identidade feminina para o avatar. Isso revela como o feminino ainda é visto como o padrão de conforto emocional, empatia e companhia.

Mais do que curiosidades sobre nomes ou vozes, a presença feminina nas IAs abre espaço para questionamentos importantes sobre os valores que estamos a reproduzir na era digital. Por que associamos a assistência, a empatia e a docilidade ao feminino, mesmo em contextos automatizados? Como podemos avançar para além desses estereótipos e construir uma tecnologia que represente as mulheres com mais profundidade, diversidade e protagonismo?

 

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